O raciocínio binário de quem se vangloria de não entender de carros
Luís Perez
Dia desses voltou ao tema de uma conversa com amigos o que eu chamo de “o marketing pessoal dos pretensos não-entendedores”. Explico. São jornalistas (ou não) que fazem questão de não só afirmar que não entendem absolutamente nada de automóveis como satanizar o carro como se ele fosse o causador de praticamente todos os males da sociedade.
Desculpe. Quem faz isso se acha superior, mas é no mínimo pouco inteligente. Simplesmente porque um raciocínio binário e maniqueísta não pode dar certo. Não precisa ser fissurado em um motor de 500 cv, mas ignorar toda a importância do automóvel nos últimos cento e poucos anos na história da humanidade e suas intercorrências culturais e históricas é algo absolutamente tosco.
A revolução propiciada com a mobilidade advinda de automóveis e aviões (estes integrando regiões completamente distintas em países continentais como o Brasil) é algo não só incontestável, mas digno de muitos trabalhos acadêmicos futuros. Basta começar analisando a interação da indústria automobilística nas duas Grandes Guerras e nos usos e costumes dos anos 50 até os dias de hoje.
Perdi a conta de quantas vezes fui ou vi colegas sendo acusados de fomentar uma indústria que vai travar as grandes cidades. Verdade, se não houver avanços sobre o uso racional do automóvel, vai. Mas tais avanços estão em discussão, em que pese a compreensível sede da indústria de vender cada vez mais.
Da mesma forma, essa mesma indústria se preocupa – não porque são boazinhas, mas porque disso depende sua sobrevivência – com o desenvolvimento de soluções alternativas de mobilidade, incluindo o uso de energias mais limpas e sustentáveis. Quem não o fizer, perderá o bonde (para usar um meio de transporte do passado) da história.
Publicado originariamente no informativo Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva