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Arquivo : acidente

Morte de Cristiano Araújo é uma derrota para nós
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Luís Perez

cristiano

Certa vez uma amiga me escreveu para fazer uma “denúncia”. Estava em uma estrada secundária quando seu carro equipado com airbag saiu da pista, rolou uma ribanceira e capotou cinco vezes. “Acredita que o airbag não abriu?”, disse, indignada. Expliquei a ela que airbag abre com desaceleração, não necessariamente com um capotamento, e perguntei se ela havia batido o rosto no volante. A resposta foi não. Aliás, não teve nenhum ferimento mais grave. “Pois então, não foi uma batida para abrir airbag, o que poderia ter agravado a situação.”

Mais da metade dos passageiros de trás não usa cinto; leia aqui

Em outra ocasião, entrevistei uma motorista tetraplégica. O assunto da reportagem era um equipamento de adaptação, mas aproveitei para perguntar como ela havia se tornando cadeirante. Havia cerca de 20 anos, ela estava como passageira no banco da frente, voltando do litoral pela rodovia dos Tamoios, quando começou a ficar enjoada com as curvas da estrada. Incomodada pelo cinto, decidiu desafivelá-lo “só por alguns instantes”. Esses “instantes” foram o momento em que a motorista perdeu o controle da direção, provocando um acidente.

Pois bem. Jornalista automotivo não vive só de testar e escrever sobre carro. Todo mundo sabe que os recursos de segurança de um Range Rover são última geração. Mas nem toda a tecnologia do mundo é capaz de poupar vidas se providências básicas como afivelar o cinto de segurança não forem tomadas (leia reportagem aqui). O airbag complementa a proteção do cinto – e veja nas fotos do carro do cantor Cristiano Araújo, morto nesta madrugada em acidente no interior de Goiás, como praticamente todos os airbags foram deflagrados.

Veja no vídeo abaixo: se uma criança presa a uma cadeirinha e ao cinto já sofre desse jeito em uma colisão, imagine um passageiro totalmente desprotegido

Ao ver um monte de gente me sugerindo pautas sobre a importância do uso do cinto também no banco traseiro ou mesmo lendo chamadas de reportagens sobre o tema, só me vem a cabeça a pergunta: “Mas agora é tarde, não?”. Nossa obrigação é alertar, fomentar as melhores práticas, no limite educar. Ou espernear, como quando o então ministro Guido Mantega quis prorrogar a não-obrigatoriedade de airbag e ABS apenas para a Kombi – na época, a gritaria deu certo.

Trabalhar com um jornalismo que em grande parte é conscientização e ver jovens morrerem por não usar o cinto de segurança deveria ser encarado como uma acachapante derrota para todos nós.


É possível carro à prova de morte?
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Luís Perez

A sueca Volvo tem uma meta um tanto ambiciosa: a de que, a partir de 2020, ninguém deverá morrer ou ficar gravemente ferido em acidentes com carros da marca.

Sim, a empresa cultiva há décadas a reputação de carros seguríssimos, o que de fato corresponde à realidade. A marca já chegou até a levantar a bandeira da segurança em detrimento de outras – design, por exemplo.

No entanto, mesmo em um carro feito para ser à prova de mortes, o passageiro que nesta madrugada morreu carbonizado dentro da cabine do sedã S60 dificilmente sairia ileso (leia notícia aqui).

O carro bateu e derrubou um poste, que caiu sobre ele. Nesse poste havia um transformador de eletricidade, o que teria (ainda dependemos de uma resposta da perícia) provocado um incêndio no veículo.

Volvo S60 que bateu em um poste na madrugada de hoje

Volvo S60 que bateu em um poste na madrugada de hoje

O motorista conseguiu sair e fugiu. Mas o passageiro, que ficou preso dentro da cabine, morreu carbonizado. Não morreu pelo impacto ou pela desaceleração, mas pelo fogo, que não foi oriundo do carro, mas da rede elétrica.

Todo acidente serve para que os sistemas de segurança sejam aprimorados. Nenhum dos dois ocupantes foi atingido pelo poste, que caiu sobre o carro. Mas poderia ter sido.

É sabido que a indústria automobilística estuda tornar os materiais que compõem o automóvel menos inflamáveis – já houve avanços significativos nesse sentido.

Fica a pergunta: diante de todas as invencionices no que diz respeito à capacidade humana de provocar acidentes, será possível mesmo um carro à prova de morte?


Brasileiro é cordial e solidário? Não no trânsito
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Luís Perez

Infelizmente ontem fui vítima de um acidente de trânsito. Não vem ao caso dizer a marca dos carros envolvidos. O assunto é outro. A rua era estreita, de mão dupla, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo). Eu estava parado no semáforo quando a motorista do carro que vinha em sentido contrário se distraiu (com o Waze, admitiu dela…), perdeu a direção e bateu na dianteira do meu.

Felizmente ninguém se machucou. A forma como os dois carros bateram fechou a rua – havia carros estacionados junto ao meio-fio de cada lado. Imediatamente desci do veículo em que estava, produzi algumas fotos da posição dos carros e, como não havia vítimas, poderíamos tirá-los de lá.

Só que o dela, que era um veículo pequeno, não andava (algo quebrou, e as rodas dianteiras não tracionavam). O meu sim – embora estivesse vazando água do radiador, o que não tornava recomendável andar muito. Simplesmente estacionei em um local permitido. Assim, pelo menos uma das faixas ficaria liberada ao trânsito, “desentupindo” a rua.

E aqui vai meu protesto, meu desgosto. Noventa por cento dos motoristas que passavam diziam impropérios (o mais publicável era na linha “Tira essa lata velha do meio da rua”). Ora, se fosse possível retirá-lo sem guincho, a dona do carro o teria feito. Mas não era.

Brasileiro é um povo cordial, solidário e alegre? Pois sim.


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