A desgraça acontece, e o motorista é o culpado
Luís Perez
Acredito piamente na máxima segundo a qual, no trânsito, os maiores têm de zelar pela segurança dos menores – caminhões e ônibus devem “proteger” os carros, que precisam fazer o mesmo pelo motociclista e todos pelo ciclista e pelo pedestre. Mas, muito cá entre nós, quem anda a pé às vezes não faz sua parte.
Há algumas semanas estava na rua Cardoso de Almeida, em Perdizes, e iria fazer a conversão à esquerda na rua Doutor Homem de Mello. Vi que não vinha carro no sentido contrário e lá fui eu fazer a conversão.
Mas tive de frear. Um rapaz barbudo, falando ao celular, olha pra mim e me aponta a faixa de pedestres, como quem indica “Ei, quem é você para avançar sobre mim? Estou na faixa, no meu direito”. Hmmm… Mais ou menos. Em uma fração de segundo, apontei o semáforo de pedestres – que estava fechado para ele.
Incidente (ainda bem) sem mais consequências, não fosse a sensação que tive – “Eu conheço esse cara…”. Não sei se de trabalho, de entrevista, de TV… Fiquei alguns minutos no trânsito tentando lembrar. Por experiência, no entanto, sabia que só me lembraria se parasse de tentar.
Trabalho invariavelmente com a TV ligada. É uma forma de fazer barulho, uma vez que me acostumei com muitos anos de Redação. Eis que uma reportagem no programa “Mais Você”, da Ana Maria Braga, me faz lembrar quem é o tal barbudo. O nome dele é Fernando Tadeu de Marco Teixeira. Ele é assessor da Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP, onde aliás estudei jornalismo. Ele voltava a aparecer no programa porque resolveu tatuar um Louro José na coxa.
Fernando foi um dos participantes da 11ª edição do Jogo de Panelas, um reality culinário muito interessante promovido dentro do programa da Ana Maria. Claro! Estávamos pertinho da PUC! Fernando, tome cuidado. Faixa de pedestre não é garantia de nada, principalmente quando o sinal está fechado para nós, pedestres.
Nesta quarta (10) mesmo, na rua Nossa Senhora da Lapa, presenciei uma quase desgraça. Primeiro vejo a cadeira (com o cadeirante em cima) sendo arremessada na primeira faixa de rolamento. Era um primeiro sinal para que o tráfego parasse.
Como não sou louco, parei. E, que me perdoem, fiquei esperando então a desgraça. Porque eu parei, mas o veículo que vinha à minha direita não tinha obrigação nenhuma de fazer o mesmo. O mesmo valeria para uma moto, dessas que vivem com pressa. A pessoa atravessou o cadeirante no meio da rua, contando com a solidariedade dos motoristas. Detalhe: estávamos a 50 metros de uma faixa de pedestres.
Depois acontecem as desgraças e os motoristas são culpados.