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Carrodependência é morte em vida
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Luís Perez

A pretensa calmaria nesta semana em que muita gente entra em férias coletivas nos dá um certo tempo para refletir acerca de algumas coisas. Uma delas é o uso que cada pessoa faz desse que é nosso objeto de cobertura, o automóvel.

Cresci sob um país fechado. Mais que isso, filho de pessoas que foram adolescentes nos anos 50, a década de ouro da indústria automobilística norte-americana. Sim, essa indústria tem outros momentos marcantes, mas os anos 50 e 60 moldaram muito a forma de pensar dos pais de quem tem entre 35 e 45 anos (meu caso).

Fato é que pouco mudara entre os 20 e poucos anos entre Washington Luís (“Governar é abrir estradas”) e a explosão da era do automóvel na América. Enquanto grandes metrópoles do mundo têm metrôs de mais de cem anos, o de São Paulo fez neste ano 40. Então é historicamente compreensível o culto ao automóvel.

Ainda assim fico estarrecido com o maniqueísmo com que o carro é tratado hoje nas grandes cidades. Como se fosse seguro e eficaz andar de transporte público em uma cidade como São Paulo. Talvez um dia seja. Hoje não, não é. Em uma situação ideal, transporte público deveria ser o veículo do dia a dia e carro serviria para viagens de fim de semana. Bicicleta? Ah, já é outra história…

Centro de São Paulo nos anos 60: era do automóvel

Centro de São Paulo nos anos 60: era do automóvel

Não é difícil constatar que a indústria automobilística tende a virar uma indústria da mobilidade, criando veículos quase individuais, sustentáveis (a energias renováveis e limpas) ou mesmo autônomos. Isso não deve acontecer porque ela é boazinha e sim por uma questão de sobrevivência.

Estupefato mesmo fico, no entanto, ao conhecer pessoas que criaram, por razões culturais (ou inculturais, digamos) uma carrodependência extrema. Isso mesmo. Gastam muito mais para manter seus veículos. Usam-nos para ir até a esquina e voltar. Mas só se sentem seguros tendo um na garagem.

“Ah, vai que dá uma dor de barriga”, argumentam uns. “Mas o táxi também está caro”, observam outros, que não fizeram a conta de que no seu caso na maioria das vezes sai mais barato usar esse meio de transporte.

É por essas e outras que há muitos anos digo que meu maior medo na vida é o da obsolescência. Nem é o da morte. Porque ficar obsoleto é uma morte em vida.


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