Blog do Luís Perez

Afinal, para que servem as prévias?

Luís Perez

Existem algumas jabuticabas típicas do jornalismo automotivo (Nota: jabuticaba é uma fruta típica brasileira; o termo é usado para designar peculiaridades em geral negativas, mas não necessariamente, que só existem aqui).

Uma delas é o embargo – a combinação com os veículos convidados a cobrir um lançamento de carro, por exemplo, de em que dia e hora a reportagem deve ser publicada. Serve para que se façam diversas turmas de jornalistas, quando há automóveis em quantidade limitada, dando “igualdade de condições” a todos.

Há quem não concorde com a prática, caso do diretor de Assuntos Corporativos da chinesa JAC, Eduardo Pincigher. “O motivo pelo qual não promovo embargos é explicado por um profundo respeito à relação entre a função do repórter e a do assessor de imprensa: quando eu convido algum jornalista para conhecer um lançamento da minha empresa, parto da prerrogativa de que aquilo só virará notícia após o crivo do jornalista, não do meu”, diz.

“Não sou dono da notícia, mas da novidade. Ora, a partir do instante em que aquilo é classificado como notícia, ela não mais me pertence. E não sou eu quem posso ajuizar o momento em que mais me interessa que ela seja publicada, pois estaria, desse modo, na minha opinião, interferindo na essência do trabalho do repórter.”

Não é senso comum. Na Honda, por exemplo, existe a prática. “O embargo possibilita dar oportunidades semelhantes de acesso a conteúdo e tempo de trabalho a um grupo de jornalistas. Essa alternativa pode ser utilizada quando os recursos, de alguma forma, não conseguem atender ao número total de jornalistas de uma só vez”, argumenta Marcel Dellabarba, gerente de Relações Públicas da Honda.

Para os adeptos do embargo, observo que, na internet, o melhor horário para “liberar” uma reportagem sempre é o comercial. Ou seja, “subir” (publicar no jargão da internet) uma reportagem às 10h da manhã é sempre melhor do que às 20h, por mais que o mobile tenha crescido em progressão geométrica nos últimos anos.

Outra prática comum é a prévia. Funciona assim: antes do chamado “lançamento nacional”, em geral promovido fora da capital paulista, organizam-se turmas de jornalistas, a fim de apresentar um produto. Serve para que os veículos possam trabalhar o material com antecedência em vez de protagonizar a famosa correria no meio da coletiva de imprensa. “Os eventos prévios visam facilitar publicações impressas com revistas especializadas e cadernos de automóveis a poderem, sob embargo, elaborar antecipadamente suas reportagens e programar a edição das mesmas junto com os meios digitais”, explica Célio Galvão, gerente de imprensa da Ford.

Quando apadrinhou politicamente João Doria para a Prefeitura de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi acusado de dividir o partido. Saiu-se com esta: “A prévia não divide, escolhe”. No jornalismo automotivo, não é assim tão diferente. Serve para que o editor tenha mais tempo para “escolher” uma abordagem – e fugir do senso comum.

Publicado originariamente no informativo Jornalistas&Cia Imprensa automotiva

PS – Nas redes sociais, fui questionado pelo fato de a prática do embargo existir em outros países. Defendo, no entanto, que o formato que essa prática assumiu no Brasil não é similar à existente em países desenvolvidos.